Hoje parei alguns instantes para ser quem já fui um dia. Voltei um pouco à serenidade e à solidão bucólica que eu tinha em casa quando vivia no interior. Por alguma ironia consegui a paz no Parque da Independência, perto da Avenida Nazaré desembocando na Ricardo Jafet e na Dom Pedro. Dormi na grama do parque tranquilamente por alguns instantes por entre casais que passeavam tranquilamente e crianças que brincavam aproveitando os dias de agosto. Voltei-me para dentro de mim mesmo e me choquei: a casca nunca é reflexo de como a noz é no seu interior, a casca pode ser dura mas o tutano é macio, saboroso e nutre.
Eu ainda estava sujo da festa de ontem, um bom banho resolveria isso, mas parece que eu queria estar deste jeito, estar sujo era estar impregnado das minhas vivências. Não posso não dizer que estava um pouco confuso, precisando ser aquele garoto do interior que tem tempo para pensar na vida. O ritmo frenético desta cidade me impede de ser eu mesmo, tenho que pensar rápido, sair e entrar em situações rapidamente, viver em São Paulo tem que ser rápido. Quando cochilei no parque, em meio a arbustos e pessoas eu pude ser devagar, não estava apressado nem atrasado. Eu simplesmente estava e é muito bom estar. Estar é ser, não existe indecisão nessa condição, estar é certeza.
Pensar na vida é um pouco se desgastar, é mergulhar um pouco na incerteza, mas eu precisava resolver a situação da noite de ontem: “Estou incerto. Gosto e ela não se decide. A outra garota que me beijou ontem parecia bem mais decidida, isso é uma diferença considerável. Acho que está na hora deste barco velho rumar para outro mar e encontrar um porto seguro. Navegar por ai, ficando cada noite em um porto do qual tem que sair ligeiramente no dia seguinte, não é algo que me apetece. Esta procura incessante por migalhas de vida está me matando. Quero poder dizer estou indo para lá, e que lá eu sou afagado e aconchegado todos os dias por isso não preciso navegar para muito longe pois estou satisfeito de vida. Ter uma certa consciência das coisas que passam no seu interior dói, às vezes penso que é melhor ser como Macabéia e pedir um analgésico para não se doer.
Estar sozinho é fácil e difícil. É fácil porque você pode fazer o que você quiser, é difícil porque não temos com quem dividir o que fizemos. Serei sozinho, é condição humana a solidão. Saber disso me entristece, me dói. Não digo que minha dor é maior do que as outras dores das outras pessoas. Competir dor é algo desleal.
A indecisão é mais insuportável que a solidão. Sempre tive que me adaptar ao meio, o meio nunca se adaptou a mim, mas eu também sempre me comportei em determinados frascos já conhecidos. Está na hora de eu viver outra coisa, está na hora de decidir, de levar minha solidão para fazer companhia a outra solidão.”
Depois de pensar tudo isso, acordei de verdade e vi que o sol estava se pondo no horizonte atrás dos prédios. Fui para casa decidido a findar com as incertezas e ir de encontro as decisões. Mas por quanto tempo as decisões são decisões verdadeiras? Quanto tempo leva para a decisões se tornarem incertezas? A dialética fenomelogica da vida transforma rapidamente as coisas em seus contrários. O que é sonho, o que sonhei ou o que estou sonhando agora? Mas, por enquanto, não pensemos nisso pois este é o melhor dos findares de dias que já vi desde que sai do interior, pois estou decidido. Estou e sou.
João...é lindo de ler.E eu disse "Row" na minha cabeça várias vezes em vários momentos...e olha que eu nem vim do interior XD
ResponderExcluirsabe, achei o texto maduro enquanto lia. E é lindo ver algumas coisas de você que tão aí dentro!
Peach
Belo e muito puro de se ler. Transmite uma sinceridade direta.
ResponderExcluirPS: Confesso q essa parte aki é revoltantemente verdadeira: "A dialética fenomelogica da vida transforma rapidamente as coisas em seus contrários." Huauhauhuahuahauhauhauahuah... mto bom!!!