Fazia dias que olhava para o computador e ia jogar paciência. Não conseguia mais escrever. Aquilo que eu costumava chamar de escritor parecia que havia sumido de dentro de mim. Isso me angustiou: eu sempre quis ser escritor, e agora que estava em pleno fluxo criativo a disciplina me passava a perna, pois eu não a tinha.
Hoje foi mais um desses dias que eu olhava para o computador e ia fazer qualquer coisa que não fosse escrever. Liguei a televisão para preencher o silêncio, que é algo que sempre me angustia. Estava passando uma dessas comédias da tarde, dessas água com açúcar. Era a história de uma garota de 17 anos que nunca havia conhecido o pai. Imagina o que é depois de 17 anos uma garota bater a sua porta e dizer: “Oi! Você é meu pai” . Esse tipo de história sempre mexeu comigo. Eu não conheci o meu pai. Hoje parece que a história mexeu mais ainda, porque ontem tive um contato com o homem que me gerou, é um contato que tenho há 22 anos: duas fotos da década de 80, quando ele e minha mãe viveram a história que tinham que viver. Não bati na porta de ninguém, mas isso foi muito emocionante. E a emoção também me causa angústia, uma angústia maior do que a de não conseguir escrever.
Agora é possível entender porque histórias de pai e filho me deixam assim, faltando alguma coisa, com lágrimas nos olhos e uma precisão de uma amigo chamado pai. Sempre quis ser pai, talvez para suprir a falta que existe em mim de um pai eu o queira ser. Gostava muito de pensar em nomes para possíveis futuros filhos: Francisco para poder chamar de Chiquinho, Joaquim para chamar de Kim e Clarice porque é duas em uma, Clara e Alice, além de ser o nome de uma escritora que sempre me deixa impressionado com a vida. Quando eu empunha esses desejos acho que minha ex-namorada se assustava – talvez foi por isso que ela me deixou, ou um dos motivos, pois a vida é tão complexa.
Mas estava falando de angústia e emoção. Como o filme me fez sentir muito e como eu tenho um dom para fugir do que me angustia: resolvi entrar no orkut e bisbilhotar a vida alheia. As vezes as angústias dos outros são maiores do que a nossa e permitem com que vivamos mais reconfortados, e quando acalentamos as angustias do outros e como se estivessemos, de alguma forma, acalentando a nossa própria. Mas desta vez não pude deixar nenhum recado que afagasse outra pessoa, pois parece que fui fulminado por um raio. Vi as fotos da barriga da namorada de um amigo meu, os frames do ultrassom e as brincadeiras do casal que espera para ser uma família. Esse amigo tem 19 anos, eu espero que a vida não o desespere com esse milagre, pois milagres da vida assustam as pessoas em tão tenra idade. Mas ao que tudo indica parece que ele está feliz, eu não tive coragem de perguntar para certificar, afinal estamos lidando com coisas delicadas. Não preciso dizer como isso me angustiou e emocionou, lágrimas rolaram pela minha face e senti inveja. Invejei que outra pessoa estava sendo completada e eu não. Ele seria o que eu não tive e o que eu não sou e nem serei por enquanto. Depois senti vergonha, por ser fraco para não dizer nada. Minha angústia era maior, e isso desespera.
Mas sempre uma angústia maior faz com que a gente resolva outra. Quis falar sobre isso, e não tive como resistir à palavra, e aqui estou escrevendo, resolvendo minha angústia inicial.
P.S.: Caro amigo, não se assuste com a minha sinceridade. Minha inveja não é nada, não é dessas que destroem e querem o do outro para si. Minha inveja é destas que olham o outro sendo e se fortalece para um dia ser. Espero o seu rebento cresça e um dia seja para outro rebento o que você será para ele. Que ele se angustie e se emocione como humano que já é, e aprenda com todos os sentimento que possa um dia ter.
Ótimo texto ! Se quiser me visitar, http://sindromemm.blogspot.com
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