quinta-feira, 7 de maio de 2020

PORQUE TENHO MEDO DE REGINA DUARTE

"E no ABC do Santeiro
O que diz o A, o que diz o A,
O A diz adeus a matriz,
O que diz o B, o que diz o B,
O B é a batalha da morte,
O que diz o C, o que diz o C,
Coitado do povo infeliz".
Sá e Guarabyra

Toda Viúva Porcina quer o seu Sinhozinho Malta.

Não me surpreendeu a entrevista da Regina Duarte na CNN. Me surpreenderia se fosse diferente. Já estava declarado o que era Regina Duarte quando ela fez aquela campanha anti-PT e pró-Serra/PSDB do "Eu tenho Medo!". Lá ela já deixava claro que sempre teve medo de comunista embaixo da cama, como todos os filhotes da ditadura tem medo de artista, que sempre são chamados mentirosamente de comunistas por eles por mais que não estejam filiados ao Partidão. Regina dizia ter medo de algo que ela nunca havia vivido antes, ou seja, sem provas factuais para justificar o medo. Filha de militar ela nunca deixou dúvida do que apoia nas palavras da mesma: “..quando conheci o Bolsonaro pessoalmente, encontrei um cara doce, um homem dos anos 1950, como meu pai, e que faz brincadeiras homofóbicas, mas é da boca pra fora, um jeito masculino que vem desde Monteiro Lobato, que chamava o brasileiro de preguiçoso e que dizia que lugar de negro é na cozinha.” Muito mais do que anti-comunista, anti- esquerdista ou anti-petista temos que entender que ela é defensora da homofobia, do racismo e da desqualificação de outros seres humanos. Eu tenho raiva e medo de Regina Duarte, mas diferente dela tenho razões factuais para tal sentimento: vivo cotidianamente o preconceito de classe e o racismo, tenho diversos amigos queridos que sofrem na pele e na carne a homofobia nas ruas, sou artista que trabalha de domingo a domingo para ser chamado de vagabundo e preguiçoso por aqueles que tem uma vida fácil com pensão de filha de militar como a atual Secretária da Cultura tem.

Eu tenho mais medo ainda de Regina Duarte por ser ator e saber que ela é atriz. Saber que ela está interpretando e que é consciente de seu personagem. Ela se prestou a desempenhar um papel na Secretaria de Cultura para o qual ela não tem o mínimo talento. Minimamente um Secretário de qualquer nicho tem que saber ouvir os pedidos do seu nicho, olhar e analisar o contexto real do nicho no país e procurar fazer ações rápidas e imediatas que levem ao avanço do nicho e do país. Em mais de sessenta dias como nomeada e mais de noventa como indicada o que temos no âmbito da Cultura é um vácuo imenso. Quanto as necessidades da classe artista durante a pandemia de Covid-19, não veio nenhum posicionamento da Secretaria de Cultura. Dependendo de uma atitude de Regina Duarte a classe artista vive, como Blanche Dubois em “Um bonde chamado desejo” esfacelada, violada e dependendo da bondade de estranhos. 

Eu tenho muito mais medo de Regina Duarte porque ela responde a perguntas concretas e pragmáticas com abstrações diminuição do que está acontecendo com a classe artística. Regina diz que não quer arrastar um “cemitério de mortes nas costas”, mas ao apoiar um governo de morte ela está contribuindo justamente para jogar pás de cal sobre os corpos de milhares de brasileiros que morreram nos últimos meses e que morrerão nos próximos. Milhares de artistas, que foram os primeiros a pararem de trabalhar por conta da disseminação do vírus, não receberam apoio da Secretaria de Cultura. A insensibilidade com os nomes de perdas para a cultura no último mês listados pela âncora do jornal deixa patente a necro-política na qual essa artista está engajada. O lucro simbólico e econômico gerado em cima de cadáveres.  Segundo a própria Regina Duarte, "ela não quer desenterrar mortos", mas o brasil inteiro vai continuar enterrando muitos mortos nos próximos dias. 

Eu tenho medo de Regina Duarte porque quando é mostrado um vídeo, no qual pede-se esclarecimentos sobre a não ação mesma, ela imediatamente surta. Grita: "Quem são vocês?!" Grita, olhando para a câmera. Ela é atriz. "Desconfie de tudo que é natural” me ensinou o alemão Bertolt Brecht.  Ela sabe que interpreta uma personagem que ocupa um cargo público. A atriz aparece ali, a intérprete, coloca a sua frente um arremedo de ser atordoado. "Vocês estão cansados?! Ficam desenterrando mortos!" Vocifera descontrolada. Uma péssima atuação da funcionária pública, mas uma ótima atuação da atriz propagandista da falta de pauta do atual governo. Um ótima cortina de saída cênica foi feita e a entrevista é encerrada no clímax. O trabalho do fascismo está feito.  Virou manchete. Virou propaganda. Nada de útil foi feito ou falado, mas ela sai de lá com o teatro realizado, sob aplausos de bolsonaristas, e com a pergunta, que a própria classe artista fez nos últimos sessenta dias, respondida: “Cadê Regina Duarte?” Tortamente e sem conteúdo, mas pergunta respondida. Assim, ninguém poderá dizer nas próximas semanas: “Cadê Regina Duarte?”; pois ela apareceu diante do público no teatro. 

Eu tenho medo da Namorazistinha Brasil. Essa mistura de afeto com câmara de gás que sufoca no horário nobre. Essa mistura de Helena de sorriso falso com Viúva Porcina mentirosa sentada no trono de Rainha da Sucata Cultural. Mas, a saber, toda Viúva Porcina quer o seu Sinhozinho Malta. Regina Duarte encontrou o seu Sinhozinho Malta assentado na cadeira presidencial e vai usar essa vantagem na realidade como fez a Porcina da ficção. Vai mentir sua herança cultural em pleno Berço do Herói às custas do cadáver de Roque Santeiro. Diferente da ficção acho que o nosso Roque Santeiro não retorna, ele já morreu de verdade na batalha contra o Covid-19, as Fake News, as cortinas de fumaças, a dança dos ministros, as manifestações verde-amarelas, a inflação galopante, as investigações da Polícia Federal interceptadas e as compras de votos no congresso. Para a Porcina Regina e para o Sinhozinho Bolsonaro tá tudo tranquilo, ou melhor, “tá ok”, porque Bolsonaro nunca balançará o relógio para perguntar “tô certo ou tô errado”, ele sabe a resposta e não quer ouvir as pessoas dizendo o obvio. 

Eu tenho medo de Regina Duarte, porque ela coloca-se como nacionalista e patriótica. Isso fez com que muitos a comparassem com o iludido Policarpo Quaresma, personagem de Lima Barreto, que esperançoso, diante das mudanças políticas brasileiras, empenha-se na luta por um nacionalismo a qualquer custo. Mas digo que não dá para compará-la com Policarpo Quaresma, porque ela está pior no contexto, e isso seria desprestigiar o personagem comparado. Envolvida numa difusão contextual  desgraçada, ela apegou-se - diferente de Policarpo, que se aferra a uma ilusão de país- a uma ilusão já pseudo-superada de país - olha só que engodo. Policarpo ainda tinha uma República para formar no fim do século 19 diante da transição política daquele momento. Policarpo tinha o novo diante de seus olhos e de sua vontade absurda e cega de transformar o Brasil numa grande nação que não havia visto ainda. Mas o que Regina está tentando ferrenhamente defender? Regina não tem nada de novo, ela tem uma certeza pessoal cega num absurdo até naturalizado, mas muito condenável das mentiras manipulatórias de enganosas benesses da Ditadura Militar. Portanto, o conceito de grande nação fantasiado por Regina Duarte, já provou-se historicamente falso. Policarpo estava iludido num futuro suspeito, Regina alude um passado condenável. Se Lima Barreto escreve o triste fim do "nacionalista" Policarpo Quaresma em 1915 como tragédia dos primeiros anos de república militar, podemos escrever 105 anos depois, em 2020, o Triste Pós-Fim da Regina Namorazistinha do Brasil, natimorta em suas convicções "pseudo-nacionalista" de foros passados e ditatoriais. 

Tenho pena de Policarpo Quaresma que não sabia o que viria a frente e impelia as pessoas a embarcar com ele nessa desventura, de Regina eu tenho raiva e medo por  ela ser tão torpe ao ponto de saber o que foi a Ditadura Militar e querer que voltemos atrás para um desgraça incomensurável.

A saber que o medo é aquilo que nos leva a reação. É necessário reagir. Temos que contrapor ferinamente e ferrenhamente o discurso de Regina Duarte, provando que o que ela diz e defende não tem substrato nacional, nem humanitário, muito menos cultural ou constitucional. As convicções dessa filha da ditadura é algo que nasce morto em sua essência. Regina vive uma fantasia putrefata de arremedo do militarismo que, em suas incursões de vulgar bandeira nacionalista, não deram certo em nenhuma instância na cadeira executiva do país: haja visto Marechal Deodoro, Marechal Floriano Peixoto, Marechal Dutra, Marechal Castelo Branco, Marechal Costa e Silva, General Médice, General Geisel, General Figueiredo e agora a piada nacional do Cabo Bolsonaro, transformado compulsoriamente em Capitão da Reserva por afastamento de demência. É totalmente antipatriótico bater continência para um ser de patente rasa, que não tem estrutura moral e racional para ocupar uma patente no contingente militar, muito menos tem trato e responsabilidade de ação na vida civil para ocupar um cargo no executivo. A saber que Regina bate continência para um capitão de arremedo, tentando retroceder para o pior de Brasil que já houve na história. 

4 comentários:

  1. Sensacional. Posso colocar na página do Facebook do Dolores? Bjs Erika

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    1. Lógico que pode! Escrevi para o mundo. Fique a vontade, comparsa! Beijos.

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  2. Sensacional mesmo. Também triste E assustador como tudo que estamos vivendo nestes tempos.

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