Fazendo samba.

“...mas para fazer um samba com beleza

É preciso um bocado de tristeza...”

Hoje passei um longo tempo falando sobre a vida e o sentimento que tenho em relação a ela. Minha ânsia fáustica faz com que eu queira ter sempre as coisas plenamente, de não ser pela metade e não fazer pela metade. Gosto de literatura, portanto, gosto de parágrafos organizando as idéias e pontos finais concluindo. As reticências me incomodam. Não fico na dúvida se me lanço no mar ou não, me jogo de corpo inteiro para molhar dos pés a cabeça. Uma vez quando estava falando de uma garota com que estava me relacionando a pouco tempo, um amigo me disse: “Cuidado Joãozinho. Você mergulha demais nas coisas”.  Mergulhar demais nas coisas. É por mergulhar demais que eu vivo meio triste fazendo de conta que a alegria não passa de uma esperança vaga. Isso não é de todo mal, pois "o samba é filho da dor e pai da alegria" como diz o Caetano. Vivo a dor e espero que a alegria um dia mexa as suas pequenas mãozinhas em minha direção e me sorria inocentemente ao me olhar com seus olhos de criança recém nascida.

Não sei como navegar nesse mar sem cabelos para se agarrar, nesse turbilhão da vida. Na verdade queria me enroscar no emaranhado de cabelos e esquecer do mundo, mesmo sabendo que a vida é para se navegar a deriva, sem segurança nenhuma. Até os melhores timoneiros não conseguem controlar esse mar em fúria ( Não é, Paulinho?). Hoje depois de uma longa conversa sobre a virulência do mar da vida postei-me na praia e esperei que as ondas me devolvessem Maria que a muito tempo havia me deixado a ver navios. Maria veio no turbilhão e me deixou na ressaca de mar. Agora vou tentar me secar e me livrar do sal que enruga a minha pele, depois descansar e sonhar com o dia que eu possa fazer samba e amor até mais tarde.