Sou um legionário. Na minha adolescência participei da “religião urbana”, isso após a morte do "messias", Renato Russo. Para ser um fiel, depois deste golpe, temos que saber como foi a vida do cabeça da religião, voltar no tempo em que não vivemos. Em todo o tempo que eu vivi pesquisei muito sobre a vida dos outros que viveram em outro tempo. Ver a vida dos outros, sentir coisas que um dia, quem sabe, viverei. Pacientemente saber como foi ser adolescente, pai, amante e exemplo, sabendo que poderei ser tudo isso. Sabendo que a vida também me doerá. Solitariamente quero que meu filho tenha nome de santo, quero o nome mais bonito, a história mais bonita. Tantas coisas não vão acontecer. Quantas espero? É preciso muita tristeza para dizer coisas bonitas. Sim, sou um animal sentimental com recordações e saudades, com grandes amores e falsas verdades.Os Poetas Solitários, mesmo sendo Abortos Elétricos criam Legiões Urbanas. Acordar é saber que não temos mais o tempo que passou, é sermos Índios sem o que um dia demos a quem conseguiu nos convencer que era prova de amizade, é ser pássaro ferido longe do ninho. Dias e dias chorei no tapete da sala ouvindo Tempo Perdido e me perguntando se era tudo isso em vão? Se conseguiria vencer? Eu tinha todo o tempo do mundo.
Eu, secreta e modestamente, sempre achei que levava escondida, as minhas próprias tempestados nos meus olhos castanhos.
ResponderExcluirQuando eu era pequena, eu brincava de ser a vida de outras pessoas. E assim, na minha despersonanalização, eu me reconhecia no outro que neste momento já era eu.
Talvez um dia eu entenda de fato que não só temos todo o tempo do mundo. Nós temos o mundo.
[encontei seu blog por aí na vida virtual e como estrangeira, ousei um comentário]
Eu amo Clarice! [Acho que foi na comunidade dela que vi o seu blog, até]
ResponderExcluirE em muitos dos textos que eu escrevo tem citações e referências à ela e ao que ela escreve.
Essa termo mesmo da "despersonalização" eu li nela. Eu a amo de todo coração!
Nos vemos nos próximos textos, então, colega blogueiro.
Até lá.
Sempre precisei de um pouco de atenção. Acho que não sei quem sou, só sei do que não gosto. E nesses dias tão estranhos, fica a poeira se escondendo pelos cantos...
ResponderExcluirJá não sei dizer se ainda sei sentir, o meu coração já não me pertence, já não que mais me obedecer. PArece agora estar tão cansado quanto eu.
Eu, como cantora de chuveiro profissional, escolhi a Legião Urbana como homenageada do banho, dia desses. Acabei esquecendo dos litros de água indo pelo ralo, desenterrando aquelas canções que algum dia traduziram para mim, aos 13 ou 14 anos, todos os sentimentos do mundo...
Até hoje lamento conhecer e amar grandes artistas postumamente. Ouvi a 1a música da Legião um ano depois que o Renato morreu. Mas isso resignificou tudo para mim. Fez-me pensar, tão nova, no quanto era mesmo possível continuar, eterno, imortal, nas palavras e notas.
E lembrei de repente de uma frase do Russo numa entrevista: todas as minhas canções falam de amor. Só escrevo canções de amor. Respirei fundo.
Espantei-me ao constatar que ainda "tenho andado distraída, impaciente e indecisa", e encontro por aí uns cavalos marinhos, estou cansada de bater e ninguém abrir, porque me deixaram sentindo tanto frio. E hoje a tristeza não é passageira.
E tudo isso me lembra Renato, meus 13 anos, e é também um espelho de hoje. Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar que tudo era pra sempre?
E tudo isso me soa amor.
Estou contigo e não abro, no meio dessa legião.