terça-feira, 3 de setembro de 2013

ZÉ EM PENSAMENTOS


No meio do dia , Zé parou para pensou: "Para quem é que eu tô trabalhando".  
Quem era o dono do terreno? 
Quem é que tava construíndo tudo aquilo para vender apartamento por apartamento com a ajuda da imobiliária? 
Será que ele sempre foi dono do terreno ou será que só é dono agora? 
Será que ele comprou isso? 
Ganhou de herança? 
Recebeu como pagamento de uma dívida? Ou o que? 
E quem era dono antes deste de agora ser o dono? 
Pareciaque a gente não sabia e  que não ia saber nunca. 
Era diferente de quando ele ia instalar a pia da Dona Maria ou fazer o muro da casa do seu Antônio. Era estranho trabalhar para alguém que  não se conhece. Alguém que a gente nunca viu a cara. 
...
" Quem é o dono? 
Quem era o dono antes deste ser dono? 
E quem era o dono antes de qualquer um ser dono?"
... 
Agora imagina um terreno. Baldio. Mas baldio a muito tempo. 500 anos de terreno baldio. Daí, um dia, uma galera sem nada se liga no movimento e tirando tudo que podem do nada constroem suas vidas. Constroem barracos, ruas, vielas, dão um jeito para ter água e luz, mesmo que a prefeitura não queira ajudar. Organizam tudo e vão viver a vida: chacoalhar no trem e ser espremido no ônibus para ir e voltar do trabalho, cuidar e melhorar a maloca com o pouco teem e que conseguiram com muito esforço; as crianças vão soltar pipa na laje, brincar de boneca na calçada e de polícia e ladrão na rua. Tá tudo bem. Mas dai aparece um cara engravatado com um monte de papel grilado, diz que aquela comunidade tá num tereno que tem dono, que a gente tem que sair. Trás os homens tudo armado. Com capacete, escudo e cacetete para cima da gente! 
...
...BUM, BUM, BUM... BUM... 
...
Dai a gente faz o que? 
...
Se arma também e vai a luta!
...
Pega o pandeiro faltando duas platinelas, o violão empenado que a gente afina um tom abaixo para acertar a nota, o tamborim com o coro rachado. E dai: "  Podem me prender /Podem me bater /Podem, até deixar-me sem comer/ Que eu não mudo de opinião/ Daqui do morro/ Eu não saio, não!" 
...
...
...
Acontece da gente reagir e dar certo. De acontecer a diferença. 
...
Mas na maioria das vezes acaba acontecendo o medo. Acontecendo a vergonha de levar porrada na cara e não poder responder. Aconteceando o voltar a não ter o que a gente já não tinha. Aconteceando contar os feridos e os vivos para tentar saber com quantos ainda lutamos. Acontecendo tentar sarar a ferida para tentar recontruir a vida. 
...
Às vezes a destruição é tanta que nem adianta ser operário de construção, que mesmo assim a gente não consegue recontruir a vida."
...
Acontece que parece que a gente vai continuar sem saber muita coisa. Acontece que se a gente não nao lutar a gente nunca vai saber o que aconte. Acontece que a gente , agora, tem que voltar a trabalhar senão a gente perde o que a gente já não tem. Mas isso não dá para continuar assim e nem é para continuar assim!"
...

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