terça-feira, 10 de julho de 2012

BORBOLETAS NO ESTÔMAGO


- Me inscrevi para o curso ... vou ver o que dá.
- Naquele que eu falei?
- Aquele mesmo.
-Vai ser muito bom para você.  Fico feliz!
Risos
- Perdi o namorado por causa disso. Mas beleza! Azar o dele.
- Como assim!? ele terminou com você?
- Ele não gosta das coisas que eu gosto. Ele é mais velho, sabe como é, aí quando eu disse que me inscrevi ele ficou puto.
- Entendi.
- Num faz mal. Eu já tava cansada da relação mesmo.
- Vai ser melhor assim.
- É.
Silêncio.
- Relacionamento é para as pessoas entenderem umas às outras, não para imporem coisas
Olham-se.
- Falou bonito!
Desviam o olhar.
- Obrigado.
Silêncio
- Como funciona o curso? Será que eu sou capaz?
E lógico que você é capaz. Vai aprender muito e ensinar também. É um grupo onde todos os integrantes são os professores. Todo mundo ensina todo mundo. Até quem está chegando, como você, pode ensinar. 
- Entendo.
- Vai ser muito bom porque eu estou lá sempre, então nos veremos mais.
Olham-se. Risos. Desviam o olhar.
- Também vou tirar uma carta de habilitação até o fim do ano.
- Oba! Poderemos pegar a estrada.
- Verdade... o problema é eu ser quem eu sou... a idéia de poder ser quem você quiser não é uma boa?... Acho que tenho problemas com a rotina... Você tem problemas com rotina?
- Acho que é por isso que eu faço o que faço.
- Eu detesto rotina. Brincar de casinha é apenas na minha vida.
- Acho que a gente é assim inquieto. Precisamos sempre do diferente. De pegar a estrada e sair por ai. Sem rumo. Sem rotina.
Risos. Silêncio.
- Às vezes me sinto sufocada. Tenho vontade de adrenalina. De 15 segundos que parecem 15 minutos.
- É.  Gosto dessa sensação.
Silêncio. Riso.
- Mas por enquanto estou me contentando em estar por aqui mesmo.
- Da viver muitas aventuras estando num lugar só. Já fiz muito isso!
Sorriso. Silêncio.
- Tô cansada de ralar.
Silêncio.
- Isso é bom.
Silêncio. Olham-se.
- Que conselho você me daria?
Desviam o olhar.
- ... ando pensando que... se a gente não arrisca a gente nunca vai saber.
Silêncio.
- ... é verdade.
- Se eu não tivesse feito o que fiz até hoje eu me perguntaria como seria.
Silêncio.
- ... é né... não tenho coragem de fazer o que você fez... não hoje... unf!... certo você... - Silêncio - ... você fica triste às vezes? Sabe, quando está só.
- Sim, mas toda deprê passa.
Resmungo de entendimento. Silêncio. Olham-se. Silêncio.
- Você é homossexual?
Silêncio. Continuam olhando-se.
- Não! - Desviam o olhar. Silêncio - só sou um homem sensível.
- E não sai com ninguém?
- Às vezes. Quando aparece uma garota interessante.
Silêncio.
- Sabe quem andou conversando comigo? Aquele seu amigo. Um tal de André. Acho que ele estudava com você. Encontrei com ele numa festa e o reconheci. Achei ele uma graça.
- Olha só hein!
- hum?!
- Nada. Foi só um comentário sem continuidade.
- Para de ser chato!
- Isso não dá para eu prometer.
- Gosto de você de qualquer jeito.
- Que bom! - Silêncio. Um suspiro - você vai ver bastante o André. Ele também se inscreveu para o curso.
- Quem disse que eu quero vê-lo?
- Só falei isso porque você disse que achou ele uma graça... não sei.
Silêncio. Uma gargalhada.
- Ficou com ciumes? - Silêncio - ... brincadeira... é ótimo ser sua amiga... não importa o que aconteça... de qualquer forma a gente se dá bem... - sorriso - ... até quando eu estou de TPM você me suporta... lembra das gracinhas que eu fazia com você?... acho que vou para o inferno por fazer você sofrer tanto.
- Ninguém vai para o inferno por ser bem humorado... e sempre gostei das suas brincadeiras.
Silêncio. Olham-se.
- Tô tão acostumada com seu jeito sério.
Desviam o olhar.
- Nem sempre sou sério.
- E agora? Como você está?
Incômodo.
- Com borboletas no estômago.
Olham-se. Silêncio.
- Não entendi... acho que não.
Desviam o olhar.
- Por que temos que entender tudo?
Silêncio.
- Acho melhor eu ir embora.
Olham-se.
- Não... Fica mais um pouco.
Silêncio. 

(Para  Amanda Massaro, dedicada companheira de palco com quem espero compartilhar muitas cenas ainda)

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