sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Esquizofrenias

Ontem sai para conversar com amiga que, também como eu, havia saído de um relacionamento a pouco tempo. (Sim, homens podem sair com amigas para conversar sobre relacionamentos). Conversamos sobre relacionamentos, sobre o começo e o fim, o que acontece com aquele que é deixado, ou com o que deixa e pensamos em nossas vidas solteiras entre goles de café e mordidas em pequenas empadinhas de frango. Eu me senti bem de estar com uma amiga tomando café e falando da vida. Era confortável!

Antes eu falava da vida com a minha ex-namorada. A gente se encontrava, íamos até um café ou um bar e entre cafés expressos ou copos de cerveja falamos da vida. Criávamos teorias ou analisávamos teorias já existentes sobre a vida. Quando íamos ao teatro assistir alguma peça também bebíamos café e depois no caminho para casa conversamos sobre o tínhamos acabado de ver: do que havíamos gosta e do que não, falávamos do que mudaríamos se fossemos os artistas daquele espetáculo, fazíamos planos para os nosso espetáculos futuros etc. Era muito gostoso fazer essas coisas. Também era confortável!

Quando tudo terminou foi muito difícil para mim fazer coisas que gostava de fazer e que tínhamos o hábito de fazer juntos. Tomar café sozinho em um teatro foi o mais difícil. O primeiro café sozinho no teatro foi assustador, aquela sensação de despertar do café e sentir o seu gosto amargo. Olha que eu gosto de café sem açúcar. Mas nesse caso não adiantaria, aquele café solitário contraria amargo mesmo com gramas e gramas de açúcar. Não foi agradável. Enquanto assistia a primeira peça sem ela veio uma taquicardia e a sensação da falta, de incompletude. Andar até em casa depois em silêncio, -sem falar nada! - foi como se tivessem me cortado a língua e furado os meus ouvidos. Era tudo muito estranho e desconfortável. Realmente, é estranho e desconfortável passar quase dois anos vendo uma pessoa regularmente e de repente você não vê mais. É esquizofrênico!

Mas o que na vida não é esquizofrênico? Até o próprio relacionar-se é esquizofrênico. De repente decidimos: “a partir de agora nos beijamos, nos chamamos por diminutivos e acordamos juntos alguns dias”. Esse poderia ser chamado de nível 1 de relacionamento, dai ainda tem o nível 2 e o 3. Vamos lá. O nível 2 é começar a combinar coisas que ainda não existem: ter uma casa, filhos, um cachorro, envelhecer junto e conversar na cadeira de balanço, coisas deste tipo. (Não é que eu não acredite nos sonhos, mas nossa vida e nossos sentimento são tão frágeis que isso tudo, que parece tão sólido, pode acabar da noite para o dia. Basta um caso do acaso e pronto, o grande corredor está na cadeira de rodas. E apesar de saber tudo isso eu sonho: quero uma casa para conviver com uma esposa e ter com ela lindos filhos que nos ajudarão a cuidar dos cães e do papagaio). O nível 3 de esquizofrenia é a decisão: “a partir de hoje você e eu podemos beijar outras pessoas e dormir com elas e tudo bem” ; ou: “a partir de hoje um de nós chora e o outro vai vivendo a vida porque está de saco cheio”. Também podemos não nos esquecer da esquizofrenia, que seria, se as pessoas não terminassem quando estão insatisfeitas. Imagina viver ao lado de alguém que você não suporta mais.
É tudo tão estranho. Ao mesmo tempo que esta esquizofrenia é totalmente humana ela parece tão desumana. Ela é tão nossa!

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